segunda-feira, 5 de novembro de 2018

'Sem uma educação de qualidade, estamos condenando nossas crianças e jovens à exclusão social'

"Há 90 anos, quando nascia o jornal Estado de Minas, nem sequer tínhamos uma educação pública bem estruturada. A pasta responsável pela área foi criada apenas em 1930, dividindo espaço com a saúde, sob o nome de Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública. Passaram-se 23 anos até a separação das duas áreas, sendo que a educação passou a ser gerida com a cultura, pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC). Apenas em 1985, o MEC pôde de fato dedicar-se apenas à área.

Essa demora em ter um órgão executor dedicado às políticas educacionais sinalizava o quanto a educação demoraria a ser prioridade no país. Um olhar comparativo sobre a alfabetização pelo mundo mostra isso. Em 1950, o Brasil tinha só 49% da população alfabetizada. Os chilenos e argentinos, por outro lado, tinham taxas de 79% e 82%, respectivamente. O abismo fica ainda mais evidente quando nos comparamos à Inglaterra, que atingiu nossa taxa de 1950 três séculos antes! A fim de recuperar o tempo perdido, o Brasil esforçou-se para, nas décadas seguintes, incluir mais crianças e jovens nas escolas. Ampliou a obrigatoriedade da matrícula, definiu fontes de financiamento para a educação e criou outras políticas educacionais para apoiar redes de ensino, como fornecer material didático às escolas. Hoje, o ensino fundamental é praticamente universalizado e o acesso à pré-escola segue o mesmo caminho.
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Tudo isso deve ser comemorado, mas, se essas iniciativas aumentaram o número de crianças na escola, não conseguiram dar cabo à falta de qualidade na aprendizagem. A Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) de 2016 mostrou que 55% dos alunos entre 8 e 9 anos não sabiam ler nem fazer operações matemáticas básicas esperadas para a idade. Como uma alfabetização precária reverbera em toda a trajetória escolar, não é de se espantar que as crianças e os jovens abandonem a escola – dados do IBGE mostram que 40,8% dos jovens de 19 anos não tinham o ensino médio completo em 2017.

O quadro é urgente: sem uma educação de qualidade, que prepare para a vida, cidadania e mercado de trabalho, estamos condenando nossas crianças jovens à exclusão social e nosso país a crises cíclicas e sobrepostas, como as que temos vivido nos últimos anos.

Mais emprego e renda, qualidade de vida e aprendizado para conviver em sociedade são avanços que começam nas salas de aula. E a virada de jogo nas crises política e econômica do país, também. Precisamos mudar e mudar já. Para isso, os próximos governantes do Brasil e dos estados devem dar prioridade às políticas que fomentam o aprendizado dos estudantes e a valorização de nossos professores.

"Mais emprego e renda, qualidade de vida e aprendizado para conviver em sociedade são avanços que começam nas salas de aula"
Priscila Cruz, cofundadora e presidente-executiva do Todos pela Educação

Sabemos o que precisa ser feito. Temos dados, evidências e experiência baseada em boas práticas que estão dando bons resultados, aqui mesmo no Brasil. Nesse sentido, o Todos Pela Educação lidera uma iniciativa com propostas prioritárias para a educação dar um salto de qualidade com equidade – agenda suprapartidária que deve começar a ser implementada pelo governo federal em 2019, a fim de que dê resultados já em 2023. Independentemente de quem sejam nossos próximos governantes, a vitória precisa ser a prioridade para a educação. Negligenciar isso é descuidar do futuro do país e, daqui a 90 anos, ver-se novamente na lanterna do desenvolvimento social."

Priscila Cruz, cofundadora e presidente-executiva do Todos pela Educação

Para Priscila Cruz, cofundadora e presidente-executiva do Todos pela Educação, "o quadro é urgente"

Influenciador pessoal, o Professor

Neste mês dos professores, precisamos fazer da docência uma causa de todos


No Dia do Professor deste ano, dei uma palestra no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, para professores e pessoas ligadas à Educação Pública. Na ocasião, uma professora da plateia, chamada Maria Alcina Quintela, fez uma intervenção que eu adorei: “neste mundo em que influenciadores digitais são cada vez mais poderosos, precisamos entender que os docentes são os maiores influenciadores pessoais”. Ela tem razão. Professores são influenciadores de uma vida toda!

Apesar das diferenças entre as gerações, eu mesma tive vários professores que me marcaram muito. A primeira foi a “Tia Angela”, Angela Santos Caruso, minha professora no Jardim I e depois no Pré II, nomes que usávamos para a Pré-Escola naquela época. A Angela foi quem me alfabetizou, com quem eu primeiro me correspondi por cartinhas; ela foi a primeira a me dizer que eu escrevia bem (até me estimulou a escrever um livrinho aos sete anos) e a me dar livros com dedicatórias lindas. Foi a Angela que me ensinou a gostar de estudar e, por isso, a ser uma boa aluna. Esse é o poder de um bom professor.

Para muita gente, infelizmente, o primeiro bom professor demora muito mais a chegar. Pode aparecer apenas nos anos finais do Ensino Fundamental ou ainda mais tarde, no Ensino Médio. Independentemente de quando essa empatia pedagógica ocorre, quando ela acontece, nossas vidas ficam marcadas para sempre.
Professores são influenciadores de uma vida toda!

Tendo dedicado a minha carreira às políticas educacionais, sei bem o valor desse profissional. O impacto de um professor melhor ou pior qualificado pode equivaler à perda de um ano escolar, conforme indicam estudos do pesquisador norte-americano Eric Hanushek. Diferentemente do que se imagina, os bons professores não são essenciais apenas para os estudantes, mas também para seus pares na escola, como aponta pesquisa recente da Fundação Carlos Chagas.

Mesmo diante de tantas evidências positivas sobre a importância dos professores, ainda formamos mal nossos docentes, damos a eles condições de trabalho inadequadas e os sobrecarregamos, impossibilitando, assim, um ensino de qualidade sem o qual jamais venceremos as múltiplas e sucessivas crises sociais, políticas e econômicas do Brasil.

Assim como a minha professora Angela, ou como o professor Jayse Antônio, educador de destaque em Pernambuco; ou ainda Débora Seabra, docente com Síndrome de Down que vem quebrando paradigmas, milhares de professores podem liderar uma guinada na aprendizagem brasileira, nossa principal e mais grave crise. Nem todas as pessoas terão a oportunidade de ir ao Memorial do Holocausto, em Berlim, Alemanha, por exemplo, nem a um centro espacial, mas bons professores podem colocar esses e outros assuntos no rol de referências dos estudantes, contribuindo para uma formação crítica.

Para que um ensino dessa natureza se torne realidade, os gestores públicos precisarão dar atenção a todos os aspectos da profissão docente: atratividade, formação, salário, condições de trabalho e carreira. Não basta olhar para um ou outro ponto, uma profunda mudança exige um plano articulado. Boas experiências e estudos científicos sobre o tema não faltam, todos apontando na mesma direção: para termos professores de qualidade, inesquecíveis e transformadores, todas as dimensões da docência devem ser recalibradas, ainda que não ao mesmo tempo.

Grande parte da vida de crianças e jovens dá-se nas escolas e precisamos usar esse tempo para uma aprendizagem significativa. Os professores devem estar preparados para mediar o conhecimento cientificamente comprovado e acumulado pela humanidade e, assim, lançar as bases para o progresso do Brasil. Essa é uma responsabilidade e tanto para os docentes, incumbência que só poderá ser efetuada com qualidade a partir do apoio de todos nós. Que isso nos sirva de combustível para que, neste mês dos professores, façamos da docência uma causa de toda a sociedade brasileira.

Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação

https://medium.com

segunda-feira, 5 de março de 2018

Governo anuncia liberação de R$ 1 bilhão para formação de professores

MEC informou que serão oferecidas 190 mil vagas para formação de professores e de estudantes de cursos de licenciatura. Temer participou de evento no Planalto em que recursos foram anunciados.


O presidente Michel Temer (centro), no Palácio do Planalto, durante evento no Palácio do Planalto nesta quarta (28) (Foto: Isac Nobrega/PR)

O governo federal anunciou nesta quarta-feira (28) a liberação de R$ 1 bilhão para a formação de professores. De acordo com o Ministério da Educação, a verba sairá do orçamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)

Ainda segundo o ministério, serão oferecidas 190 mil vagas para formação de professores e de estudantes de cursos de licenciatura.

O evento de anúncio dos recursos aconteceu no Palácio do Planalto, e o presidente Michel Temer participou da cerimônia.

Segundo o MEC, os recursos anunciados nesta quarta serão investidos por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) a partir de agosto, até 2019.

Ainda de acordo com o ministério, estão previstas:

45 mil vagas no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid);
45 mil vagas no Programa de Residência Pedagógica;

100 mil vagas na Universidade Aberta do Brasil (UAB).

"O Ministério da Educação está destinando R$ 1 bilhão para política de formação inicial para essas três ações", afirmou a secretária-executiva do MEC, Maria Helena Guimarães Castro.

Ela destacou, ainda, a necessidade de os professores dominarem o conteúdo que vão ensinar. Também é preciso, segundo a secretária-executiva, conhecer a realidade escolar.

"Em geral, o aluno sai da escola, da faculdade, sem nunca ter conhecido o funcionamento de uma escola de educação básica, nem público nem privada", disse.

Conforme a Capes, nesta quinta (1º) serão publicados os editais no "Diário Oficial da União" do Pibid e da residência pedagógica. Em março, as instituições de ensino deverão apresentar os projetos, que serão avaliados por bancas examinadoras.

O início das atividades para os estudantes será em agosto, bem como o pagamento de bolsas, cujos valores variam de R$ 650 a R$ 1,5 mil. O órgão explicou que também há bolsas disponíveis para professores e coordenadores.

Em março, as instituições de ensino deverão apresentar os projetos que serão avaliados por bancas examinadoras. O início das atividades para os estudantes será em agosto, bem como o pagamento de bolsas, cujos valores variam de R$ 650 a R$ 1,5 mil. O órgão explicou que também há bolsas disponíveis para professores e coordenadores.

'Grande alicerce'

Em um rápido discurso ao final do evento, o presidente Michel Temer afirmou que o investimento de R$ 1 bilhão na formação de professores reforça as ações do governo para melhorar o "sistema educacional do país".

"A formação de crianças e jovens é, na verdade, um grande alicerce para uma economia próspera, para uma democracia vibrante para uma cidadania plena", disse.

Curso a curso

No caso do programa de iniciação à docência, o objetivo do governo é permitir que o futuro professor tenha contato com o ambiente escolar ainda na primeira metade do curso.

Conforme Maria Helena Guimarães, os beneficiados devem estar nos dois primeiros anos do curso. A intenção é que os professores tenham "aproximação com a realidade escolar a partir do aprendizado" nas faculdades.

Na residência pedagógica, segundo o MEC, o objetivo é o "aperfeiçoamento do estágio curricular supervisionado", com a experiência do estudante, na segunda metade do curso, em escola de educação básica.

O estágio, até o momento, é feito em escolas da rede pública, segundo Maria Helena.

"Ela [residência pedagógica] tem um ciclo de formação que se estende por 18 meses. Durante os 18 meses os alunos receberão as suas bolsas", afirmou.

Nos dois programas, cada selecionado será acompanhado por um professor de escola com experiência na mesma área de ensino estudada. Os dois programas integram a Política de Formação de Professores, anunciada em outubro de 2017.

No caso das vagas na UAB, é oferecida capacitação para professores que atuam fora da sua área de formação. Os cursos são realizados à distância.

Alfabetização e ensino médio

Ao fazer um pronunciamento no evento, o ministro da Educação, Mendonça Filha, afirmou que em março será divulgado o edital da edição de 2018 do Enem e que o governo federal vai lançar uma política para fortalecer a alfabetização.

"Crianças mal alfabetizadas têm estreitado o seu caminho em relação ao futuro", disse o ministro.

Mendonça também declarou que, até o final de março, pretende concluir a proposta de Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio - a BNCC para os ensinos infantil e fundamental foi homologada no ano passado.

"Espero entregar ao Conselho Nacional de Educação a nossa proposta para a base nacional, que será deliberada pelo conselho e depois retornará para homologação pelo Ministério da Educação", afirmou.

Por Guilherme Mazui e Roniara Castilhos, G1 e TV Globo, Brasília

FONTE: https://g1.globo.com/educacao/noticia/governo-anuncia-liberacao-de-r-1-bilhao-para-formacao-de-professores.ghtml

Maranhão eleva piso salarial do professor a R$ 5,750

Valor é referência para professor em início de carreira com carga de 40h semanais; estado tem o maior piso salarial para a categoria em todo o país



O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), anunciou nesta semana a recomposição de 6,81% nos salários do magistério e professores contratados da educação básica, o que eleva o piso da categoria a R$ 5,750 para 40h trabalhadas, o que promove a remuneração de referência dos professores maranhenses a maior do país.

Já o docente em início de carreira com 20h semanais receberá o valor proporcional, equivalente a R$ 2.875,41. Durante o anunciou do reajuste, o governador afirmou que investimento é fundamental para desenvolver do estado do Maranhão. Embora o estado tenha, ano a ano, subido nas avaliações que medem a vulnerabilidade da população, o Maranhão ainda é um dos estados brasileiros com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mediano.

Na contramão

O governador Geraldo Alckmin anunciou, no dia 4 de janeiro deste ano, o reajuste de 7% do piso salarial de mais de 200 mil professores da rede estadual. Com o reajuste, o salário base de um professor paulista passará de R$ R$ 2.415,

"Sala de aula digital: um caminho sem volta"

Arrisco dizer que nunca foi tão difícil educar como é hoje em dia. Tanto para os pais quanto para os professores. Com toda essa tecnologia fazendo parte do cotidiano de crianças e adolescentes, como atrair a atenção dos alunos para os métodos tradicionais de ensino? A competição entre livros e cadernos com tablets e celulares chega a ser por vezes desleal. As ferramentas tecnológicas ganham de lavada o interesse dos alunos. E, em razão disso, não dá mais para os educadores fugirem desses recursos em sala de aula. As chamadas TDICs – Tecnologias Digitais de Informação e de Comunicação – podem e devem ser incorporadas nas práticas educativas. E te garanto que todos – alunos e professores – serão mais felizes, e o processo de ensino e aprendizagem, muito mais prazeroso. 

Não adianta remar contra a maré; os estudantes de hoje em dia são nativos digitais. Para eles, tudo é on-line e a tecnologia é algo muito óbvio e natural. Por isso é tão difícil hoje despertar interesse pelo que foge desse universo. De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil, 22 milhões (91%) das crianças e adolescentes brasileiras acessaram a internet pelo celular em 2016. Então, como não incorporar esse recurso como ferramenta pedagógica? 

O desenvolvimento de aplicativos educacionais que auxiliam na alfabetização e no aprendizado da matemática, de ciências e de idiomas está bastante avançado e rico em conteúdo de qualidade. Diversas editoras também têm agregado conteúdo digital a seus livros didáticos. É só buscar os que mais se encaixam em seu planejamento educacional, que deve ser bem elaborado, com objetivos definidos. Dessa forma, os recursos tecnológicos tendem a ser um complemento no desenvolvimento das atividades em sala de aula, potencializando novas formas de aprendizagem. 

Sim, é um desafio usar a tecnologia a nosso favor. Muitas vezes parece mais fácil lutar contra ela do que gerenciar o “efeito zumbi” que ela causa nos jovens. Afinal, a grande maioria de nós é um professor que está inserido em uma sala de aula no estilo do século 19, com a formação do século 20 e alunos do século 21, como dizia a mestra e especialista em Educação, Carolina Defilippe. Para mudar esse cenário é preciso capacitação com foco específico em tecnologia. Também é necessário engajamento e coragem para mudar a didática tradicional. Práticas inovadoras são sempre bem-vindas e devem ser integradas aos conteúdos. 

Precisamos valorizar as inteligências múltiplas da nossa geração de alunos, que consegue interagir de diversas formas e executar inúmeras atividades ao mesmo tempo. Porém, é preciso direcioná-los pedagogicamente e tecnologicamente. Sem esse tipo de orientação, eles provavelmente se perderão no caminho da aprendizagem, desviando-se do foco proposto pelo professor. Esse é o papel que o educador moderno deve exercer em sala de aula.


ARTIGO
Luis Antonio Namura Poblacion: "Sala de aula digital: um caminho sem volta"
Engenheiro Eletrônico pelo ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica

#EducaçãoJá!

É preciso ter obsessão para melhorar a Educação no Brasil

Jaime Saavedra, diretor global de Educação do Banco Mundial, diz que quando se trata de melhorar a qualidade do ensino, o Brasil é parte do problema – mas também da solução
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Por: Soraia Yoshida
Jaime Saavedra, diretor global de Educação do Banco Mundial Foto: Divulgação



“É preciso investir mais dinheiro em Educação e garantir que esse dinheiro não seja desperdiçado”, afirma Jaime Saavedra, diretor global da área de Educação do Banco Mundial. Ao discutir o peso que os governos do mundo inteiro deveriam dar ao ensino-aprendizagem, Jaime entende que os alunos deveriam ter igualdade de condições. “E se você precisa gastar mais em um estado para que as crianças tenham as mesmas condições, então que seja”, diz.


À frente das iniciativas de Práticas Globais de Educação, ele se diz extremamente preocupado com o que chama de “crise no aprendizado”. Indicadores do Banco Mundial apontam que nos países em desenvolvimento, o número de crianças que não são capazes de ler, escrever ou fazer operações básicas de matemática – mesmo após alguns anos na escola – é gigantesco. “Na África Subsaariana, esse número chega a 90%”, diz.


O diretor global de Educação acredita que a maneira de virar o jogo está relacionada a mais investimentos, mas chama atenção para que esses recursos não se percam e, sim, sejam usados de maneira eficiente. “Dinheiro gasto com um professor que falta e não dá aula é dinheiro desperdiçado”, afirma. “E não podemos desperdiçar dinheiro para Educação, temos de garantir que seja usado corretamente”.

Jaime fala por experiência própria. Ele foi ministro da Educação no Peru, período durante o qual o país apresentou melhores resultados na aprendizagem. Segundo ele, por estar no comando de uma pasta de interesse nacional, ele percebeu rapidamente como as mudanças poderiam ter um impacto em todo o país. "Faço questão de dizer que trabalhar para o serviço público é uma honra porque você pode gerar impacto na vida das pessoas, principalmente dos jovens e crianças", diz.

De passagem pelo Brasil para participar do seminário “Aprendizagem: Realizando o Potencial da Educação”, em São Paulo, Jaime Saavedra discutiu suas preocupações sobre o nível educacional e como o Brasil se encaixa hoje nesse cenário. Leia a seguir os principais trechos da entrevista a NOVA ESCOLA.



Quando o sr. fala em uma crise de aprendizado global, do que exatamente estamos falando? E onde fica o Brasil nesse cenário?
Eu uso o termo crise devido à magnitude do problema. Não estamos enfrentando uma situação em que 10% dos estudantes não conseguem ler nem escrever, mesmo na escola. Estamos vivendo um problema global em que 50% dos estudantes dos países em desenvolvimento não conseguem aprender. Esse número varia de mais ou menos 20% em países da Europa Oriental até 90% em países da África Subsaariana. Além disso, temos 260 milhões de crianças em idade escolar que deveriam estar matriculadas no Ensino Fundamental e no Ensino Médio que não vão à escola. E, para piorar, a média de matrículas em Educação Infantil fica em torno de 50% nos países em desenvolvimento. É um problema enorme: garantir que as crianças estejam na escola e que elas tenham todas as condições para aprender. O Brasil é parte do problema e parte da solução.

De que maneira?
O Brasil é um país de dimensões continentais e em termos de aprendizado, os números ficam entre 50% e 60% - o que coloca o país na média da América Latina. Considerando os resultados do Pisa, se você olhar para o Brasil notará que houve uma melhoria durante algum tempo, mas então os resultados estagnaram. Como a maioria dos países da América Latina, fica na faixa de baixo do Pisa. O desafio de avançar na melhoria do ensino de maneira global, nós vemos também para o Brasil.

Em muitos países, a discussão é que o ensino não avança porque os professores precisam ser melhor preparados. Por outro lado, educadores chamam atenção aqui no Brasil para o fato de que pouquíssimas iniciativas, mesmo aquelas que mostram resultados, se mantêm de um governo para o outro. O sr. já disse anteriormente que os professores são parte da solução. Qual a sua visão para isso?
Quando falo que são necessárias certas condições para que as políticas se mostrem efetivas para melhorar a educação, é a isso que me refiro. Você precisa planejar os programas para que tenham o tamanho certo e estejam alinhados da maneira correta. Em muitos casos, o alinhamento político precisa ser feito entre diferentes atores, mas o importante é ter um alinhamento político que permita ao Brasil ter persistência e sustentabilidade de políticas públicas. E como você citou, entra um novo governo e quer começar tudo outra vez e aí temos problemas. Os países bem-sucedidos em termos de políticas públicas para Educação são aqueles que sustentaram essas políticas por muito tempo. Sobre os professores, eu diria que eles têm que ser parte da solução. Não há outra alternativa, não existe reforma sem professores. Não se trata de pensar “ah, já que as crianças são tão inteligentes hoje, vamos encontrar um software para que elas aprendam sozinhas”. Isso não existe. A tecnologia é muito importante, ela permite que o aprendizado se torne mais rápido, efetivo e mais divertido. Mas terá de ser sempre uma ferramenta usada pelo professor para ensinar. Por isso eu reforço que os professores precisam ser parte da solução. E a parte importante para o país é que o Brasil tem todas as condições para avançar.

Temos razão para nos sentir otimistas, então?
Sim. Há algumas reformas que já estamos vendo, como o novo Ensino Médio, por exemplo, e é uma mudança que está indo na direção certa. Se for aprovada e implementada da maneira correta, vai colocar o Brasil em uma posição mais vantajosa para conseguir melhorar a qualidade da educação. O Brasil também precisa aprender mais com sua própria experiência. Você encontra exemplos muito bons em vários municípios. O Brasil não precisa imitar a Finlândia, a Coreia do Sul ou Cingapura. O país vai experimentar um grande progresso se imitar o que acontece de bom dentro do próprio Brasil. Agora, a questão é que não se pode parar com os primeiros bons resultados. É preciso continuar melhorando.

Uma das questões que pesa sobre o país é a desigualdade, que faz com que tenhamos mais investimento e melhores condições em algumas partes do Brasil e menos em outras, ou seja, os alunos não recebem de saída condições iguais de se desenvolver e aprender. O sr. acredita que podemos diminuir essa lacuna progressivamente ou ainda vai levar muito tempo?
É uma questão de recursos, sim, mas é uma questão de vontade política de promover mudanças. É muito difícil diminuir a desigualdade de uma hora para outra, isso ainda vai levar algum tempo. Mas não precisa demorar 30 anos. É um processo, mas acredito que será possível ver mudanças mais rapidamente.

O sr. defende que as mudanças globais demandam que os professores se preocupem não apenas em passar conhecimento, mas também outras habilidades que permitam aos estudantes chegar mais preparados para encarar os desafios de hoje. Como atingir esse equilíbrio entre conhecimento e capacidades e de que forma os professores podem fazer isso em sala de aula?
Em primeiro lugar, é preciso garantir que os professores tenham a mentalidade de que precisam fomentar essas habilidades entre seus estudantes – e não pensar que eles vão desenvolvê-las em casa. “Eu só vou ensinar História e pronto”, não é isso. Eles precisam estar conscientes de que é parte de sua responsabilidade. E isso não está claro para todos os professores. Eu tive bons professores que faziam as duas coisas. Hoje precisamos que todos os professores estejam conscientes de que sua responsabilidade também é fomentar as habilidades socioemocionais nos alunos.

O segundo ponto é que você pode fomentar essas habilidades ao mesmo tempo em que está passando conhecimento. Se você ensina História preocupado apenas que os alunos memorizem datas, você pode mudar para ensinar o contexto histórico e incentivar o pensamento criativo. Essa é a maneira certa. Você ensina aos alunos como articular ideias e incentiva a formação do pensamento crítico, enquanto explica os acontecimentos históricos. É uma combinação, não se trata de escolher uma coisa ou outra. Dessa maneira, os alunos aprenderão as habilidades fundamentais, como ler e escrever, assim como conhecerão Matemática, História, Geografia, Economia, Ciência etc. combinadas a estas outras habilidades socioemocionais. Não existe subcategorias de perseverança e desenvolvimento de trabalho em equipe, você ensina isso enquanto ensina Biologia. 

Qual seria o seu conselho para melhorar a educação brasileira a partir de agora?
Mais do que um conselho, que não é o nosso papel no Banco Mundial, e sim acompanhar as reformas, eu diria que o que está sendo feito no Ensino Médio é um movimento na direção certa. No ano passado a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi aprovada e o desafio agora é implementar esse currículo, garantindo que os professores internalizem qual é maneira de ensinar esse currículo. Essa é uma prova de que as coisas precisam seguir adiante entre um governo e outro. Porque este processo de mudança no Ensino Médio e na elaboração de um currículo nacional é algo que vai ficar para o próximo governo. Todos esses processos levam anos para serem elaborados e implementados. É assim que as coisas acontecem. 

Essa é a receita?
Esse é o desafio para o Brasil. Aliás, não apenas para o Brasil, mas para todos os países bem-sucedidos em suas políticas de melhoria de qualidade do ensino. Aumentar o número de alunos matriculados e ao mesmo tempo melhorar a qualidade do ensino, o que em muitos casos está ligado a melhorias nas condições para os professores. Você precisa garantir que a sociedade tenha essa “obsessão pela educação”, a vontade de seguir em frente com reformas, permitindo a continuidade de um governo para o outro. É uma obsessão por melhorar a formação dos professores, motivá-los e escolher as melhores pessoas para que sigam nessa carreira. São coisas que não se consegue mudar da noite para o dia. Você precisa ter essa obsessão na sociedade, de tal forma enraizada, que será mantida de um governo para o outro.

FONTE:https://novaescola.org.br/conteudo/10174/e-preciso-ter-obsessao-para-melhorar-a-educacao-no-brasil

Base Nacional Comum

Saiba como organizar sua escola para as discussões da Base

No dia 6 de março, escolas do Brasil inteiro deverão se mobilizar para debater o documento que guiará os currículos de todas as escolas do país
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Por: Laís Semis
Crédito: Divulgação/MEC

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada no ano passado, deverá ser implementada nos próximos dois anos em todas as escolas da rede pública e privada do Brasil. Para dar conta do desafio de ter um país inteiro alinhado nessas discussões, é preciso que todos os atores envolvidos no dia a dia da escola estejam apropriados do seu conteúdo para aplicá-los na prática. Neste momento, as redes estão discutindo a construção dos currículos. Para que estes contemplem as realidades locais em que estão inseridas as escolas e o processo seja transparente, legítimo e de credibilidade, a participação dos gestores escolares e professores é imprescindível. 

Para auxiliar as discussões e dar suporte aos gestores, o Ministério da Educação (MEC), em parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e a União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime) desenvolveu uma série de materiais detalhados. As orientações e propostas de atividades são de caráter sugestivo e podem ser usadas por completo ou parcialmente pelas redes e instituições de ensino. O MEC está fazendo uma mobilização nacional para que no dia 6 de março todas as escolas participem de discussões sobre o tema – seja em grupos internos ou com representantes na secretaria de Educação. 




A data é apenas uma referência. Caso não seja possível realizar as atividades no Dia D, é possível usar o material nos momentos de formação coletiva da equipe ou organizar outra data para mobilização. “O importante é que as redes e escolas se familiarizem com a Base e ampliem o debate sobre o documento", apontam os órgãos organizadores no material orientador. 

A proposta para a data é que sejam realizadas apresentações, atividades e dinâmicas de caráter formativo. A programação pode ser feita nas unidades escolares ou serem organizadas pela secretaria em um evento centralizado ou em diversos polos da cidade. Cada rede ou escola poderá organizar o Dia D da maneira que preferir. 

Para inspirar e auxiliar a organização desse encontro e de outras formações que podem acontecer ao longo do ano sobre o tema, o material traz um passo a passo de atividades, tempo estimado para realização de cada uma delas, dicas e arquivos de apoio, como PDFs e Power Points, para utilização com a equipe. O material é completo e dá instruções claras para introduzir as discussões na escola. 

As sugestões foram organizadas em um roteiro de 4h que pode ser conferido aqui. São cinco atividades propostas sobre como a BNCC se articula com a sua rede/escola, reflexões sobre a formação dos estudantes para o futuro, como as dez competências previstas pela Base se articulam no contexto da escola, como compartilhar as informações sobre o tema e um momento final dedicado às aprendizagens do dia. 

+ Baixe o PPT ou o PDF de apoio para apresentação 

Um outro material também foi divulgado para os que desejam realizar um dia mais longo de atividades ou continuar as discussões em um segundo momento. Nele, outras três outras atividades são propostas com foco na Educação Infantil e componentes curriculares do Ensino Fundamental; planejamento de sala de aula à luz das competências gerais, campos de experiências, objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de habilidades; e como as competências do aluno e do professor se dão na prática. Entre o pacote desenvolvido pelo MEC, Undime e Consed, ainda há um vídeo tutorial para uso dos conteúdos.

+ Baixe o PPT ou o PDF de apoio para apresentação das atividades extras


As orientações também incentivam o registro das discussões para que as redes organizem as informações de maneira a circular entre as escolas e redes. Se a sua escola ainda não se mobilizou, entre em contato com a secretaria para se informar se a rede está planejando alguma ação centralizada. E vale lembrar: apesar da mobilização nacional para o Dia D, a Base é um documento complexo, obrigatório e que exige o entendimento dos professores para sua aplicação. As discussões devem se estender e aprofundar ao longo de todo o ano para que a transposição para a sala de aula favoreça a aprendizagem dos estudantes.

FONTE: https://gestaoescolar.org.br/conteudo/1956/saiba-como-organizar-sua-escola-para-as-discussoes-da-base

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Matemática: mais razões para chorar do que comemorar


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Foto: Getty Images
Em meio ao caos, uma conquista. O prestigiado Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) passa a compor o grupo da elite em pesquisas de Matemática ao lado dos dez países mais desenvolvidos, que incluem China, Alemanha e Estados Unidos. A produção brasileira nas pesquisas nesta área de concentração aumentou dez vezes nas últimas três décadas. Um recorde nunca antes visto.
MAS SERÁ QUE É TEMPO DE COMEMORAR?
Apesar das pesquisas brasileiras em Matemática representarem 2,5% de toda produção matemática mundial, o questionamento se mostra atual e ele não nos deixa fechar os olhos. Por um lado, o país se destaca em nível mundial pela pesquisa em Matemática; por outro, o Brasil continua amargando ínfimos resultados internacionais na mesma área de conhecimento da Educação Básica. Linhas abissais perversas entre as pontas. Afinal, quando leremos também "Brasil entra para o grupo de referência mundial quanto ao Ensino Básico em Matemática"?
ONDE ESTÁ O ERRO DESTE CÁLCULO GIGANTE ENTRE AS PONTAS? 
Os dados apresentados pelo Pisa, avaliação feita em 70 países, não nos deixam enganar nem tampouco comemorar livremente. O Brasil amarga a 66ª colocação em Matemática – considerada a menor pontuação nas últimas cinco edições do programa. Os resultados são graves porque mostram o congelamento em um ponto inaceitável na reflexão do gráfico. É um fator crítico porque a Matemática é considerada essencial para o exercício da cidadania.
Os testes externos à escola são indicações. Eles não revelam o novo, apenas reforçam o que todos já conhecem. Mas é importante ressaltar que diferentemente de outros testes padronizados, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) considera capacidades fundamentais que os alunos da Educação Básica precisam dominar: formular problemas, construir estratégias, raciocinar e argumentar matematicamente, medir, levantar e/ou refutar informações incoerentes, explorar diferentes linguagens de representações e operações, entre vários outros processos matemáticos. Não dominar estas capacidades é grave e se mostra urgente. Em média, 70% dos estudantes do Brasil estão abaixo do nível 2 em Matemática. Muitas autoridades continuam com os olhos vedados para essa questão. Não seria um prestígio para o país ter o ensino de Matemática em alto nível? Lamentavelmente, olhando para os investimentos financeiros e analisando o processo histórico, a atenção dada a este campo diz que não.
O currículo fragmentado, isolado e dissociado muitas vezes da própria realidade do aluno. Um currículo do século XIX centrado no conteúdo e não em competências. Temos aqui um cenário altamente crítico com resultados que nos levam a pensar sobre o Ensino de Matemática na Educação Básica. Pesquisas recentes mostram que há avanços no Ensino Fundamental. São avanços tímidos, claro. Por outro lado, mesmo sendo o resultado de uma combinação perversa de elementos, contradições e encurtamento de políticas públicas educacionais eficientes e investimentos, é uma demonstração contundente do fracasso do modelo ainda vigente na Educação Básica. O problema se agrava ainda mais pelo encolhimento de verbas destinadas a este setor da educação.
O Ensino de Matemática da Escola Pública (em especial, no Brasil) resiste, apesar da combinação de fatores perversos – que vão desde políticas públicas ineficientes até a formação inicial e continuada adequada para professores que ensinam Matemática. É preciso de investimentos. Educação não é mágica e nem sacerdócio. É formação, espaço de pesquisa e desenvolvimento social, científico e tecnológico. É preciso tomar muito cuidado, claro, quanto a afirmações que culpam o trabalho do professor da Educação Básica, a partir de dados alarmantes divulgados. Não é só dele a responsabilidade. Reduzir esses dados gritantes entre o topo e o chão, entre a glória e a derrota, é um processo que demanda vários atores da sociedade. É preciso se preocupar com a fatia dos investimentos à Educação e garantir que eles cheguem continuamente, até que tenhamos novos resultados do Ensino de Matemática.
Greiton Toledo de Azevedo é professor efetivo do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal Goiano, campus avançado Ipameri. Ele é doutorando em Educação Matemática pela Unesp, mestre em Ciências, Educação e Matemática pela UFG e especialista em Educação Matemática, com ênfase em Matemática Computacional.
Por: Greiton Toledo de Azevedo

Profissão professor: quando formação docente e realidade escolar não dialogam

Para especialistas, mudança passa por melhores estágios e valorização da carreira

Formar com qualidade professores para as redes públicas de ensino é um dos grandes gargalos da Educação brasileira. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aproximadamente 24% dos docentes do sistema público não tinham formação superior em 2015. Esse patamar está muito longe da meta 15 do Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê a universalização da Educação Superior dos profissionais que ensinam as crianças e jovens brasileiros em seis anos.

E essa é apenas uma parte do problema. Ter o diploma não significa que os outros 76% receberam instrução adequada para saber como ensinar – é o diz Adilson Dalben, Coordenador da licenciatura em Matemática da Faculdade SESI-SP de Educação. “Quando o professor sai da faculdade, ele não está preparado para a realidade da escola. Mas mesmo assim ele tem que dar conta”, explica. Como chegamos a esse ponto?



Razões históricas
Na análise de Elba de Sá Barretto, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (FCC), uma das causas é que o aumento de docentes licenciados aconteceu de forma acelerada e precária. “Muitas instituições que estão formando os professores não desenvolvem pesquisa e a formação fica com muitas lacunas, sem a produção de conhecimento novo”, afirma.

Elba considera ainda que há uma histórica diferença de concepção entre a maneira que se formam os professores do Ensino Fundamental 1, do Ensino Fundamental 2 e do Ensino Médio. Em Pedagogia, que forma professores da Educação Infantil e Anos Iniciais, há instrução mais generalista e pouco aprofundada no conteúdo, mas tem conhecimento das questões pedagógicas da escola. Por outro lado, as Licenciaturas em áreas específicas têm foco no conteúdo e deixa a desejar no que diz respeito a como ensinar. “A formação dos docentes dos Anos Finais e do Ensino Médio em geral não valorizam questões complexas da formação humana, de como os alunos aprendem e quais alternativas podem ser utilizadas para melhorar esse processo”, explica.

Esse problema crônico, segundo a pesquisadora, vem do despreparo para lidar com a universalização do Ensino Básico. A partir dos anos 1980, o Brasil passou a expandir o acesso aos Ensinos Fundamental e Médio, aumentando a demanda por professores que passaram a lecionar à uma população maior e diversa.

Para corrigir esse descompasso entre os currículos de Pedagogia e das Licenciaturas, os professores dos Ensinos Fundamental 2 e do Médio devem receber instruções mais sólidas quanto à compreensão da função social da escola e as alternativas de abordagem para o aprendizado dos alunos efetivamente aconteça. “Sem trabalhar as formas de como ensinar (metodologias de ensino), os docentes acabam por repetir as abordagens didáticas que receberam quando estavam nas carteiras da Escola básica”, afirma.

Praticar para aprender
Além das questões de equilíbrio entre didática e conteúdo, a formação inadequada dos professores está intimamente ligada ao estágio. “A prática como componente curricular significa que todas as disciplinas da graduação devem estar voltadas para o que acontece no ambiente escolar”, afirma Elba. “Mas quando analisamos os estágios, percebemos que a maioria é apenas formal, modelos que os futuros professores pouco aproveitam”, critica. Para a especialista, aprofundar as relações das instituições formadoras com as redes de ensino é super importante. “Devemos ter práticas para que a formação docente realmente responda às necessidades da escola, formatos e que o graduando possa acompanhar os desafios reais do dia a dia escolar”, afirma. 

Diante dessa perspectiva, de não apenas licenciar professores, mas formá-los aptos para ensinar, a proposta da Faculdade Sesi-SP de Educação tem postado em formatos interessantes. Adilson Dalben explica quais os caminhos da instituição para um sólido programa de residência pedagógica. Além de licenciados por área de conhecimentos (os alunos de ciências da natureza poderão lecionar química, física e biologia, por exemplo), os estudantes também praticam a docência desde o início do curso e discutem experiências entre pequenos grupos e com orientadores. “São feitos estudos de casos em que os alunos analisam suas experiências reais. Assim, o futuro docente não trabalha com hipóteses que serão observadas um dia, mas sim reflete sobre os problemas ainda na universidade para saber ensinar e colaborar para a aprendizagem”, explica.

Para mudar a licenciatura: valorização e apoio
Se não faltam críticas ao estado atual da formação dos professores, já há indícios do que precisamos fazer para melhorar essa situação. Para Adilson, o primeiro passo é anterior à entrada de alunos nas licenciaturas. “Tem muita gente que quer ser professor, mas desiste. Isso se deve à representação que a mídia e todo o contexto escolar fazem dos educadores. Valorizar a carreira passa por questões salariais e condições de trabalho”, diz.

O especialista ressalta ainda a importância da iniciação à docência, dentre quais ele destaca o Programa Institucional de Iniciação à Docência (Pibid). Nele, alunos de licenciatura recebem bolsas de estágio para atuar em escolas públicas com objetivo de aproximar os futuros professores com a rede pública. Apesar desse depoimento positivo,o Programa foi interrompido e não tem previsão de retorno.

Como terceira iniciativa, Adilson destaca também as políticas públicas de bolsas de estudos para graduação em Licenciaturas. “Quem quer ser professor, muitas vezes não tem condições de se sustentar na faculdade e desistem porque precisam trabalhar. Nesse sentido, é importante garantir bolsas de estudos para que o aluno conclua o processo de formação. Além de não ser tão caro, penso que isso seria um grande avanço para realidade brasileira”, explica.

Já Elba considera que a integração entre as ações não podem ser deixada de lado. “Atitudes isoladas não são eficientes. É necessário ter uma efetiva aproximação entre instituição formadora e Escola. As soluções devem ser amadurecidas e refletidas diante da realidade das escolas”, afirma.

"Sala de aula digital: um caminho sem volta"

Luis Antonio Namura Poblacion: "Sala de aula digital: um caminho sem volta"
Engenheiro Eletrônico pelo ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica

Arrisco dizer que nunca foi tão difícil educar como é hoje em dia. Tanto para os pais quanto para os professores. Com toda essa tecnologia fazendo parte do cotidiano de crianças e adolescentes, como atrair a atenção dos alunos para os métodos tradicionais de ensino? A competição entre livros e cadernos com tablets e celulares chega a ser por vezes desleal. As ferramentas tecnológicas ganham de lavada o interesse dos alunos. E, em razão disso, não dá mais para os educadores fugirem desses recursos em sala de aula. As chamadas TDICs – Tecnologias Digitais de Informação e de Comunicação – podem e devem ser incorporadas nas práticas educativas. E te garanto que todos – alunos e professores – serão mais felizes, e o processo de ensino e aprendizagem, muito mais prazeroso. 

Não adianta remar contra a maré; os estudantes de hoje em dia são nativos digitais. Para eles, tudo é on-line e a tecnologia é algo muito óbvio e natural. Por isso é tão difícil hoje despertar interesse pelo que foge desse universo. De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil, 22 milhões (91%) das crianças e adolescentes brasileiras acessaram a internet pelo celular em 2016. Então, como não incorporar esse recurso como ferramenta pedagógica?

O desenvolvimento de aplicativos educacionais que auxiliam na alfabetização e no aprendizado da matemática, de ciências e de idiomas está bastante avançado e rico em conteúdo de qualidade. Diversas editoras também têm agregado conteúdo digital a seus livros didáticos. É só buscar os que mais se encaixam em seu planejamento educacional, que deve ser bem elaborado, com objetivos definidos. Dessa forma, os recursos tecnológicos tendem a ser um complemento no desenvolvimento das atividades em sala de aula, potencializando novas formas de aprendizagem.

Sim, é um desafio usar a tecnologia a nosso favor. Muitas vezes parece mais fácil lutar contra ela do que gerenciar o “efeito zumbi” que ela causa nos jovens. Afinal, a grande maioria de nós é um professor que está inserido em uma sala de aula no estilo do século 19, com a formação do século 20 e alunos do século 21, como dizia a mestra e especialista em Educação, Carolina Defilippe. Para mudar esse cenário é preciso capacitação com foco específico em tecnologia. Também é necessário engajamento e coragem para mudar a didática tradicional. Práticas inovadoras são sempre bem-vindas e devem ser integradas aos conteúdos.

Precisamos valorizar as inteligências múltiplas da nossa geração de alunos, que consegue interagir de diversas formas e executar inúmeras atividades ao mesmo tempo. Porém, é preciso direcioná-los pedagogicamente e tecnologicamente. Sem esse tipo de orientação, eles provavelmente se perderão no caminho da aprendizagem, desviando-se do foco proposto pelo professor. Esse é o papel que o educador moderno deve exercer em sala de aula.

Governo quer criar cadastro para que professores aposentados possam dar aulas de forma emergencial

Objetivo, conforme a Secretaria de Educação, é usar os inativos para que alunos percam menos aulas quando professor titular se ausenta

A Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul (Seduc) quer implementar este ano um cadastro para reaproveitar professores inativos da rede em escolas estaduais. A proposta, discutida desde o fim de 2017, está sendo analisada pelo setor jurídico da pasta. O objetivo é regularizar a atividade a partir do início das aulas, previsto para começar, em parte das escolas estaduais, no dia 19 de fevereiro.

O objetivo é criar o que o governo está chamando de cadastro de colaboradores de ensino, que será formado exclusivamente por membros inativos do magistério do Estado. Conforme a Secretaria de Educação, os aposentados vão atuar de forma supletiva na execução de programas e projetos especiais transitórios, que deverão ser submetidos à aprovação de comissão especialmente criada para isso. Na prática, quando um professor titular se ausenta, até que um docente temporário seja encontrado e esteja apto a dar aula, a Seduc pretende utilizar os inativos, para que os alunos percam o mínimo de aulas.

Pelo projeto, os servidores inativos que atuarem vão receber por hora trabalhada. Conforme o governo gaúcho, a proposta é amparada na Lei Estadual nº 11.126, de 1998. A reportagem tentou contato com o secretário da Educação do Estado, Ronald Krummenauer, ao longo dos últimos dias, mas ele não quis se manifestar sobre o tema, que ainda é apreciado pela Seduc.


O Sindicado dos Professores do Rio Grande do Sul (Cpers) ainda não se manifestou sobre a medida analisada pelo governo gaúcho.

EDUARDO PAGANELLA
https://gauchazh.clicrbs.com.br

A formação do educador é um processo permanente


A formação do professor deve ser compreendida como um processo dinâmico, contínuo e permanente, tendo como base um conhecimento aprofundado sobre o aprendiz. 
Para enriquecer e fortalecer a formação, são fundamentais conhecimentos psicopedagógicos que o ajudem a compreender melhor as técnicas e destrezas que lhe permitirão uma boa e correta atuação educativa, conhecimentos metodológicos que possibilitem conduzir satisfatoriamente as aprendizagens dos pequenos e conhecimentos sociais para adequar melhor à realidade educativa ao contexto sócio-cultural. 
Hoje, apenas a formação acadêmica, não é suficiente para a atuação do professor em sala de aula, pois o conhecimento da graduação precisa ser expandido para lhe possibilitar ir além dos conhecimentos básicos que são aprendidos no banco de uma universidade. 
O professor precisa buscar novos conhecimentos, pesquisar e ter seu próprio acervo de conhecimentos construído, para que tenha a possibilidade de relacionar teorias e escolher a ação prática mais adequada, refletindo sobre o que oferece como profissional ao seu aluno. 
O esperado para um professor, é que ele esteja perto do seu aluno, conhecendo aquilo que ele já sabe, o que ainda pode saber, e como ele realiza suas atividades. Sendo assim, ele busca conhecimentos e estratégias que atendam aos diferentes estilos de ensinar e de aprender entre seus alunos. 
Ao abordar a figura do professor é preciso ressaltar que o objetivo é fazer com que o aluno passe a aprender com mais reflexividade, consciência e autonomia tendo um professor com foco no seu autoconhecimento e com a possibilidade de conhecer-se como ser humano e profissional. 
O professor ao tomar consciência de suas atitudes, da elaboração de suas aulas e da prática pedagógica executada com o aprendiz, tem a possibilidade de compreender as estratégias adequadas a serem utilizadas a cada aula planejada. 
Quando ao executar a atividade, algo que não foi planejado, ou seja, um imprevisto acontecer é preciso que o professor tenha controle e seja habilidoso para conduzir a situação de modo que o objetivo final seja alcançado. 
É importante que o professor/professora tenha conhecimento de si como educador e mantenha um diálogo próximo consigo e com o outro para acompanhar seu desenvolvimento e avaliar sua prática pedagógica com a intenção de modificar o que pode ser melhorado e permanecer com os aspectos positivos.
A inferência do professor na aprendizagem do aluno é importante dentro da sua prática, pois é a partir dessa atitude, que ele tem a possibilidade de conhecer como ele estabelece suas relações com a aprendizagem. 
O exercício de ser professor é de extremo compromisso com a formação de uma vida, que precisa ser cuidada e acompanhada durante o seu desenvolvimento para estabelecer boas relações e aprendizagens que possam multiplicar-se com a trajetória acadêmica de cada aprendiz. 


*Ana Regina Caminha Braga (https://anareginablog.wordpress.com/) é escritora, psicopedagoga e especialista em educação especial e em gestão escolar.


quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Como vai a saúde dos nossos professores?

Más condições no ambiente escolar impactam o desempenho profissional dos docentes e, consequentemente, o aprendizado alunos


Em 2016, a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo concedeu 128.178 mil licenças médicas a professores dos Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio (PEB II), totalizando 2.901,529 dias de afastamento. Os dados foram obtidos pelo movimento Todos Pela Educação por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

São números altos, mesmo para uma rede enorme como a paulista, que mostram como as condições de trabalho impactam diretamente a saúde dos educadores. Portanto, estabelecer boas condições no ambiente escolar é fundamental para eles e, consequentemente, para os estudantes.

Mas o que seria um bom ambiente escolar? Um levantamento realizado pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) em 2010 apontou os maiores problemas enfrentados pela rede na opinião dos docentes – ou seja, fatores que contribuem para que não se crie um cenário saudável e favorável à aprendizagem. São eles: superlotação das salas de aula, jornada excessiva de trabalho e violência. O quadro abaixo traz mais informações:



Dados como esses são reveladores da importância da Meta 17 do Plano Nacional de Educação (PNE), que diz respeito à valorização da carreira docente. É urgente a necessidade de se instituir políticas públicas específicas voltadas à saúde do professor, afinal, a qualidade da Educação também depende de professores saudáveis e dispostos. 

Legislação

Apesar da estratégia 7.31 do PNE visar medidas que assegurem a integridade física, mental e emocional dos profissionais da Educação, ainda não existe nenhum programa nacional para atender essa necessidade. Por outro lado, tramita hoje na Câmara dos Deputados o projeto de lei PL-2776/2011, que institui a política nacional de saúde vocal. A proposta prevê aos profissionais da área uma avaliação anual feita por psicólogos, otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos e assistentes sociais. Também preconiza o oferecimento de programas periódicos de capacitação e treinamento para o uso adequado da voz, além de ações de reabilitação dos profissionais já acometidos por lesões vocais e/ou laríngeas.

Para os docentes da rede estadual de São Paulo, em 2010 foi instituído o decreto nº 55.727Programa SP Educação com Saúde que, em consonância com a Lei Estadual nº 12.048, de 2005, tem como objetivo promover ações que agreguem qualidade de vida, promoção de saúde e prevenção de agravos relacionados ao trabalho para os docentes.

O Todos Pela Educação entrevistou professores que desenvolveram problemas de saúde durante o exercício da docência por conta das más condições do ambiente escolar. As histórias dos educadores e as dicas dos especialistas para prevenir as principais doenças serão publicadas nas próximas semanas. Acompanhe!

João Bittar/ MEC

Por Denise Crescêncio, do Todos Pela Educação


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O Perfil dos professores do Ensino Básico no Brasil e o PNE

"É preciso reconhecer a necessidade de avançar em estudos mais detalhados para poder formular políticas públicas de Educação com foco nas condições de vida e trabalho dos educadores", afirma Milko Matijascic, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

Marcos Santos/USP Imagens/ Fotos Públicas
O Plano Nacional de Educação (PNE) foi aprovado em 2014. Caso sejam cumpridas as suas vinte metas, ocorrerá uma transformação decisiva para a melhoria no atendimento e, sobretudo, na qualidade da Educação brasileira. A avaliação conjunta de todas essas metas e respectivas estratégias é uma tarefa de grande porte que já vem sendo empreendida por instituições de peso como o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Todos Pela Educação, a quem agradeço a concessão deste importante espaço para divulgar os esforços de pesquisa.

O presente artigo tem por objetivo sintetizar os principais resultados da pesquisa que focalizou as grandes regiões geográficas brasileiras e apresentou detalhes das situações de domicílio metropolitanas, urbanas não metropolitanas e rurais. Como a quantidade de informações é muito grande, nosso objetivo no presente contexto enfoca o Brasil segundo a situação de domicílio. Os resultados mais precisos e análises mais detalhadas podem ser encontrados no Texto para Discussão (TD) 2304 do IPEA.

O foco do TD 2304 do Ipea foi verificar as condições de vida, inserção no mercado de trabalho e a remuneração dos professores da Educação Básica a partir dos dados divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada peloInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A opção pela Pnad teve por objetivo verificar as condições gerais para todos os professores do Brasil em temas que somente essa fonte ou o Censo Demográfico, já um tanto defasado, podem realizar. Mais importante: a Pnad serviu de opção para o próprio PNE para verificar a evolução dos salários dos professores, sendo possível também medir o seu nível de formação. Os resultados obtidos para o Brasil contam com indicadores importantes que devem estar na mira dos formuladores de políticas públicas, uma vez que o estudo abordou temas relativos às metas 15, 16 e, sobretudo, 17 do PNE.

Os resultados mostram que existe uma inserção preponderante de mulheres enquanto professoras, com uma maior participação das que são brancas. No entanto, homens e mulheres negros ganham mais importância nas regiões urbanas não metropolitanas e, sobretudo, nas rurais. Os professores possuem uma participação menor na condição de pessoa de referência no domicílio e também um menor número de filhos em relação aos demais ocupados. Além disso, a inserção de professores em domicílios com renda inferior à linha de pobreza (abaixo de meio salário mínimo per capita) ou de indigência (com renda per capita inferior a um quarto do salário mínimo) é bem menor que nas demais ocupações, mas pode atingir um total de 14,7% em áreas rurais ou de 4,4% nas urbanas. Ou seja: isso requer atenção para poder atingir as metas propostas pelo PNE.

Quando o tema é a posição na ocupação, os professores da Educação Básica são quase que exclusivamente assalariados, pois 99,1% deles estão nessa condição. Os dados também revelam que 94,1% deles contribuem para a previdência, o que é notável em relação aos demais trabalhadores onde esse patamar é inferior a 60%. Outra característica importante é que os professores da Educação Básica empregados pelo setor público federal representam um contingente marginal. Já as demais formas de emprego, ou seja, o setor público estadual ou municipal e o setor privado, contam com um número de empregados similar nas regiões metropolitanas. No entanto, nas áreas urbanas não metropolitanas e, principalmente, rurais, é o setor público municipal o principal empregador.

Mais de 10% dos professores de escolas públicas estaduais e municipais possuem mais de uma atividade docente, com uma incidência um pouco menor nas áreas rurais. Esses resultados representam o dobro do obtido nas demais ocupações. O número mais modesto para a iniciativa privada revela que a maioria professores que também atuam no setor público consideram ser este o seu emprego principal. Esses resultados também são válidos para mais de uma atividade, não se detendo apenas nas docentes, mas, nesse caso, os indicadores se aproximam de 20% para os professores de escolas estaduais, 15% nas municipais e oscila entre 10% e 20% nas privadas metropolitanas e urbanas não metropolitanas, respectivamente. Esses patamares são elevados e requerem atenção, pois a maioria das escolas com bom desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) contam com professores que possuem dedicação exclusiva a apenas uma escola.

A escolaridade dos professores é uma questão importante. Em escolas estaduais, cerca de 11% dos professores em áreas urbanas não possuem Ensino Superior. Nas escolas municipais, esse patamar oscila entre 16 e 21% e nas privadas, entre 25 e 28% para regiões metropolitanas e nas demais urbanas. Para as escolas rurais esse patamar é sempre superior a 30%. Fica claro, portanto, onde deve se concentrar o esforço para qualificar os professores.

O número de professores com Pós-graduação ainda é muito reduzido no Brasil e será um grande desafio atingir um contingente de 50% estabelecido pelo PNE para 2024, quando se encerra a sua vigência.

Em matéria de remuneração, os professores em áreas metropolitanas auferem salários maiores que os de outras áreas urbanas e estes, por sua vez, possuem remunerações bem superior à dos colegas nas áreas rurais. Professores empregados no serviço público recebem salários maiores que os da iniciativa privada. No âmbito do setor público, os professores federais recebem os salários mais elevados, ultrapassando, em muitas regiões, a média salarial para profissionais com nível superior. Os professores da rede estadual, por sua vez, recebem salários menores que os da esfera federal, mas superiores aos da municipal – sendo que os últimos concentram o maior número de docentes da Educação Básica no Brasil.

Por fim, é possível verificar que os professores com mais de uma ocupação recebem remunerações maiores em relação àqueles que possuem um único emprego. Quando os professores atuam em atividades secundárias não docentes, suas remunerações, não raro, são maiores nessa atividade. Isso poderia se explicar pelo fato de existirem professores que atuam no mercado de trabalho devido ao conhecimento profissional que possuem, ajudando a formar as gerações mais novas. Por outro lado, se a adoção de outra atividade visa apenas a complementação de renda, esse é um fator negativo, pois os professores deveriam receber bons salários que permitissem o sustento de sua família. Isso reforça a necessidade de elevação dos salários docentes com um meio eficaz para melhorar a qualidade da Educação, conforme preconiza o PNE.

Diante do exposto, é preciso reconhecer a necessidade de avançar em estudos mais detalhados, com bases de dados que atinjam os municípios e cada uma das escolas existentes, para poder formular políticas públicas de Educação com foco nas condições de vida e trabalho dos professores. Esse é um aspecto muito relevante para promover a retomada do desenvolvimento do País em bases sustentáveis.

*Milko Matijascic é técnico de Planejamento e Pesquisa pelo Ipea. Doutor em Economia pela UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas desde 2002 – e Bachelier en Sciences Économiques et Sociales pela Academia de Poitiers (França, 1983). Integra, desde 2008, o comitê Científico da AISS – Associação Internacional de Seguridade Social – e da Revista Internacional de Seguridade Social.

Todos Pela Educação

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FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Professora alerta para apagão na formação de profissionais de ensino

O Brasil está vivendo um “apagão” grande e preocupante na formação de professores, e deve encontrar caminhos para estimular a formação desses profissionais. A avaliação é da diretora da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) Amábile Pacios. Segundo ela, a falta de professores para as matérias de exatas é o que mais preocupa.

O tema foi abordado hoje (15) durante audiência pública da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. “Temos que incentivar as instituições a continuar investindo nos cursos de licenciatura, apesar da baixíssima procura, e incentivar as universidades federais a continuar formando professores, e acima de tudo convocar a juventude para a profissão de ser professor. Em todos os aspectos, nenhum país pode ir para a frente se não tiver professor. A educação acontece diariamente, com o professor em sala de aula”, disse Amábile.

Na avaliação da professora, o desinteresse dos alunos na carreira decorre da desvalorização da profissão na sociedade. “Esse desprestígio da profissão por parte da sociedade e das famílias desestimula as pessoas a fazerem cursos de licenciatura”. Uma sugestão apresentada por ela é a de oferecer vantagens para entidades privadas que quiserem exercer o papel de formar professores no país, como a facilitação na avaliação de instituições que oferecerem cursos de licenciaturas. A proposta já foi apresentada ao Ministério da Educação.

Financiamento

Durante a audiência, o diretor Executivo do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior de São Paulo (Semesp), Rodrigo Capelato, defendeu mudanças na forma de financiamento do ensino superior. A entidade apoia o modelo australiano, que leva em consideração o desempenho do estudante no mercado de trabalho depois da formação, ou seja, se houver frustração de renda, seja porque o indivíduo teve desempenho ruim no mercado de trabalho, ou porque ficou muito tempo desempregado, o valor de sua dívida é reduzido proporcionalmente.

Na avaliação de Capelato, o Brasil deve refletir sobre o modelo de financiamento para o ensino superior que deve ser adotado. “A primeira pergunta que termos que responder é: nós queremos uma universidade gratuita ou queremos financiamento para todos? No mundo, existem países que adotam a universidade gratuita, mas ela é para todos, ou ela é paga, mas há financiamento para todos. O Brasil não se posiciona nem de um lado nem de outro. Então, o gratuito muitas vezes é para uma pequena elite”, disse.

Capelato apresentou um estudo da entidade com novas propostas de diretrizes de políticas públicas para o ensino superior. “Nosso objetivo é estimular e dar início à discussão de uma nova proposta de desenvolvimento de uma política pública para o ensino superior de longo prazo. Que se mudem os governos, mas que a política pública continue visando dez, vinte anos”, disse.


Edição: Fernando Fraga

Sabrina Craide - Repórter da Agência Brasil

FONTE: http://agenciabrasil.ebc.com.br